11.06.2007

O DESPERTAR DA COMPAIXÃO I

[Desconheço o autor dessa foto!
Lamentável! Foto lindinha]
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Muito se fala dela, pouco se sabe. A compaixão pode não ser exatamente o que você pensa que é: existem várias maneiras de experimentá-la, a maioria das vezes de forma surpreendente
por Liane Alves

Quando resolveu contar histórias para crianças em hospitais como voluntário da Associação Viva e Deixe Viver, o juiz desembargador Antonio Carlos Malheiros teve de superar a si mesmo. No dia escolhido para seu turno na ala de queimados de um grande hospital de São Paulo, ele colocou seu nariz de palhaço, ajeitou seu avental colorido e enfrentou a forte visão das crianças com queimaduras. Foi um grande choque. Mas em poucos minutos, porém, Malheiros já estava solto. Sabia que sua maneira de exercitar a compaixão ali era dar alegria a quem estava mergulhado no sofrimento. O que ele não podia, naquele momento, era sentir dó, piedade, “peninha”. Por isso riu, e arrancou muitos sorrisos, com as histórias que contou. Foi um verdadeiro sucesso. Quando estava quase saindo, sentiu um puxão lá embaixo no seu avental. Era um menino de uns 5 anos com o rosto quase totalmente envolto por bandagens e esparadrapos. O garoto fez um sinal para o juiz se inclinar e disse bem baixinho no seu ouvido: “Tio, pode não parecer, mas eu estou rindo...”
Aí não tem jeito, algo se desmancha no coração. Ele se torna mais tenro, mais terno. E perde sua carapaça habitual de dureza. Como não preenchê-lo de amor por aquela criança vivendo em condições tão difíceis? O sentimento da compaixão é mesmo um transbordamento amoroso. Como as lágrimas, que rolam pelos olhos por causa da emoção, ela transborda diretamente do coração, só que em direção ao mundo.
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