5.09.2007

DES-pedir IV

Ganhos, não perdas

O medo da perda dificulta essa tomada de decisão. Especialmente pela constatação de que deixaremos para trás um parte de nós mesmos – o que fomos – para sermos o que somos agora. Porém, junto com toda renúncia há sempre um ganho e um aprendizado, que aos poucos se dão a conhecer. “Todo adeus traz, consigo, um sim para a vida dito imediatamente antes”, afirma a filósofa Dulce Critelli. Como a princípio esse sim nem sempre é evidente, vem a angústia. Muitos especialistas comparam o processo de encerramento de um ciclo à experiência do luto, com as mesmas fases passadas por alguém que tenha perdido um parente, por exemplo. Há o choque inicial, o período de negação ou dúvida e o momento em que sentimentos e sensações misturados (da insegurança à solidão, da confiança a um intenso contentamento) vêm à tona de forma torrencial. Depois, o instante em que o indivíduo se dá conta de que o fato é real e, por fim, a aceitação. Permitir-se vivenciar todos os estágios é fundamental.
Os especialistas em luto, inclusive, aconselham externalizar esse adeus, dizer com todas as letras para si mesmo o que se deseja largar e soltar. Algumas pessoas precisam verbalizar o que querem da vida para ganhar força para tomar uma decisão. Outra recomendação é reservar uma parte do dia para viver a dor da perda. Nesse momento, que pode ser antes de dormir ou num fim de tarde, por exemplo, se pode chorar, ir ao fundo do poço. Durante o restante do dia, porém, o mais aconselhável é viver o presente, sem se deixar carregar pelo sofrimento.

“O adeus acontece desde o instante em que resolvo mudar ou inicio a mudança. Até o momento da ruptura, elaboro o que ganho e o que perco e faço gradativamente as despedidas”, afirma a psicóloga Ingrid Esslinger, do Laboratório de Estudos da Morte da USP. O luto continua, mesmo depois da decisão concretizada. “Por isso, é comum que a pessoa se pegue, tempos mais tarde, chorando de saudade ou questionando se aquela opção foi a melhor.”

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