5.09.2007

DES-pedir III

Por que o sofrimento?

Eis uma das grandes complicações em despedir-se: como admitir que a vida planejada anteriormente não faz mais sentido para a pessoa que você é hoje? A impermanência da existência incomoda porque “inviabiliza” nosso controle. Por isso, uma das razões para o sofrimento gerado pelo adeus é um velho conhecido: o apego.

“Atribuímos nossos próprios significados às pessoas e às situações e isso nos liga a elas de tal forma que não conseguimos nos desapegar”, diz o psicólogo Arnaldo Bassoli, da Associação Palas Athena, em São Paulo. Mas, se as transformações internas e externas são inevitáveis, por que se agarrar a certos momentos quando sua existência está levando você para outro lado?

O problema é que o ser humano, ainda mais na sociedade consumista de hoje, não se contenta apenas em vivenciar algo; ele quer possuir esse algo, retê-lo, conservá-lo em formol para que se mantenha “para sempre” tal e qual era no início – e isso vale para tudo: um parceiro, um emprego, um status, um argumento, até uma rotina. E que angústia perceber a impossibilidade desse desejo! Bassoli usa uma metáfora budista para mostrar como lidar com essa situação natural da vida, que é de constante mutação: segure firmemente um objeto em suas mãos, alongue os braços à sua frente com a palma para baixo e relaxe seus dedos: você perderá o que carrega. Contudo, se mantiver a palma da mão para cima, mesmo afrouxando os dedos, o objeto ainda estará ali. O segredo, então, é conservar o que se tem com desapego ou, então, soltar de vez o que não tem mais valor.

[http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/053/01.shtml - Fernanda Ceccon]

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