4.16.2007

NÃO TÃO DISTRAÍDA

Se não me chamassem talvez eu,
entretida com tantos compromissos inadiáveis,
não teria percebido a delicadeza de tons e contornos,
logo acima de minha cabeça.

Virei bem o rosto para a flor,
adiei todas as tarefas,
larguei a bolsa na mesa de jardim,
e fiquei um tempo sem medidas olhando a beleza tão próxima,
tão simples e tão entregue - e ao mesmo tempo,
tão solene. Foi há várias horas,

ou há vários dias, mas continua aqui,
em mim, em meus olhos,
e vai me acompanhar por muito tempo ainda.
Tive um vislumbre da importância do momento,
da elegância com que a vida
às vezes nos toca e nos lembra de que
estamos vivos,

de que devemos dizer hoje a palavra esperada,
fazer hoje o gesto prometido:
amanhã poderá ser tarde,
ou estaremos todos distraídos demais.
[Lya Luft]

Nenhum comentário: