1.01.2007

DESTINO OU LIVRE-ARBÍTRIO?

Primeiro texto de abertura de 2007!
Faz parte das outras memórias! Belas memórias!
Saboreie!

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Os anos me ensinaram que liberdade é possível e desejável. Há, entretanto, na vida, um campo intensamente dinâmico e interativo entre o que a vida nos vai determinando e o que fazemos com essas determinações.

São incompletas todas as teorias deterministas. Não há só uma força superior nos compelindo a tudo. São, também, incompletas as teorias indeterministas que nos dão como senhores absolutos dos atos, do próprio destino.

Somos, isto sim, eternos e aflitos procuradores da diferença entre o que é mistério, destinação ( força superior ) e o que é liberdade de escolher os próprios atos e caminhos. Mistério e liberdade andam juntos. Nossa tarefa de humanos é deslindar os nós e as amarras do destino. Para isto fomos dotados de liberdade. Ela nos permite fazer com a vida, aquilo que formos capazes de realizar a partir do que nos acontece, sem que o dominemos.

Há, portanto, uma instância de destino, invencível e outra de liberdade, vencedora. A liberdade pode nos levar a lutar contra o destino e até vencê-lo. Mas só a partir das regras que ele ( destino ) determinou.

Posso nascer sem braços e treinar a tal ponto os dedos de meus pés que posso fazer o que impossível seria se o destino não fosse vencido. Venço, certamente, ao escrever e pintar quadros com dedos dos pés. Mas só o fiz depois que ele ( o destino ) se impôs. Liberdade é a instância que me permite a escolha de vários caminhos, após a imposição do destino.

Por isso, liberdade é um dos supremos bens do homem! Por que se coloca como instância eternamente presente. A cada imposição ( de qualquer natureza ) brota, concomitante, a liberdade ( pelo menos em potência ) de algo a se fazer a partir da situação. Não se elimina, portanto, a liberdade, por mais que contra ela tanto se atente, porque ela é a presença determinista do novo em qualquer ato, fato, idéia ou sentimento.

A liberdade é, portanto, ela também, um determinismo.
A liberdade é, portanto, ela também, uma imposição do destino!

É do destino do homem ser determinado pelo mistério e ser livre para saber o que fazer com essa determinação. Ceder, passivo, ao destino é tão grave quanto tentar opor-se a ele ou transgredi-lo.
Compreender a dialética envolvida nesses dois pólos é uma das mais difíceis tarefas do homem, porque joga com uma instância incompreensível ( o destino ) e outra alcançável e formulável, embora difusa ( a liberdade ).

O grande equívoco humano é tentar opor liberdade ao que é destino e desistir da liberdade onde supõe haver apenas destino. Destino é mistério. Destino não é o que está escrito num livro ( até pode ser ). Destino é algo de próprio, profundo, destinação psicobiogenética física-metafísica do ser humano. Destino é individualidade. É próprio, intransferível. Destino é o que nos difere dos demais.
Na aceitação do próprio destino (não como o que está escrito, mas como o que não, poderia deixar de nos ocorrer ou de nos constituir internamente), está a possibilidade de liberdade, pois só a partir dela é possível transformar a vida numa atividade (relativamente) feliz, útil, saudável, eis o difícil, eis o caminho. Supor que somos meros joguetes dos fatos supradeter-minados, ou somos onipotentes para fazer o que queremos ou desejamos, eis a alienação fundamental.

O herói é o mortal que luta contra o destino para, afinal, aceitá-lo e só aí conseguir ser livre o suficiente para dele fazer o que quer.

Ser livre é saber o que fazer diante do que nos reserva o destino e como ocupar os espaços nos quais o destino nos influi.

[Texto de Artur da Távola]

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