11.24.2006

TÊNIS E FRESCOBOL

[Desconheço o autor da imagem]

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que há relacionamentos de dois tipos: tênis e frescobol. Os do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me: O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a derrota se revela no erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada - palavra muito sugestiva - que indica o seu objetivo sádico: cortar, interromper, derrotar.
O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.
Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.
Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha.
E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre.O erro de um, no frescobol, é um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro fica chateado.
Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos sozinho, mas os dois ganham juntos.
[Texto parcial - Ruben Alves]