11.22.2006

PALAVRAS

São como um cristal,
as palavras.

Algumas, um punhal,
um incêndio.

Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,

leves.
Tecidas são de luze são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem

as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

[Eugénio de Andrade]