11.04.2006

ARMADILHAS

quem procura decifrar no desenho da madeira o hieróglifo da existência;
quem não se acanha de achar o pôr-do-sol uma perfeição;
quem se desata em sorriso à visão de uma cascata;
quem leva a sério os transatlânticos que passam;
quem visita sozinho os lugares onde já foi feliz ou infeliz;
quem de repente liberta os pássaros do viveiro;
quem sente pena da pessoa amada e não sabe explicar o motivo;
quem julga adivinhar o pensamento do cavalo;
todos eles são presidiários da ternura
e andarão por toda a parte acorrentados,
atados aos pequenos amores da armadilha terrestre.

[Paulo Mendes Campos]

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