10.30.2006

VASTIDÕES


Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos
afligidos.

Descem pela água minhas naves
revestidas de espelhos.
Cada Lâmina arrisca um olhar, e investiga
o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto
à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas
que não se encontram.

Virei-me sobre minha própria experiência,
e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância
por mares contraditórios,
e este abandono para além
da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é que é alma:
qualquer coisa que flutua por este
corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano
sobre a areia passiva e inúmera...

[Poesia de Cecília Meireles - Imagem: Múcio]

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